sábado, 25 de outubro de 2014

Conheça a história de Shige Iwahara, 66 anos, funcionária de um bentoya em Shizuoka

Shige Iwahara
Todos os dias as oito e meia da manhã, a paulistana Shige Iwahara veste seu uniforme branco para cumprir a jornada numa empresa que abastece uma rede de lojas de conveniência. Há dez anos ela trabalha na linha de montagem de bento.

O setor alimentício é um dos mais estáveis no Japão. Mesmo em época de crise, continuou empregando japoneses e estrangeiros. Segundo a Japan Franchising Association, as mais de dez redes de lojas de conveniência, ou konbini como são mais conhecidas, faturam por mês cerca de 685 bilhões de ienes. Cerca de 35% desse volume é gerado por produtos alimentícios, principalmente os bento.

Ainda segundo dados da mesma entidade, em média uma pessoa gasta 600 ienes cada vez que entra em uma loja de conveniência. E não seria exagero dizer que quase sempre é para comprar uma das marmitas que saem de fábricas como as que empregam milhares de brasileiros.

Shige descobriu isso depois que veio ao Japão, 13 anos atrás. O primogênito dela chegou antes, no início do fenômeno dekassegui. Ele foi trabalhar em uma fábrica na provínvia de Shizuoka, em 1990. A mãe desembarcou em 2001 em Hyogo, quando havia mais de 4 mil brasileiros na região. Hoje, a mesma província tem menos de 3 mil. Muitos retornaram para o Brasil, mas Shige preferiu permanecer.

A cidade de Miki, onde mora atualmente, tem cerca de 80 mil habitantes e menos de mil estrangeiros. Brasileiros, são pouco mais de 200. Muitos trabalham com Shige na fábrica de alimentos. Ela diz que se sente segura no país. Está inscrita no Seguro Social, que garante assistência médica e previdenciária, além de ter o contrato de trabalho renovado a cada ano.

¨Trabalho desde pequena¨, diz Shige, que desde a infância sempre ajudou os pais na lavoura. Casada, foi cuidar da quitanda da família, mas ficou viúva cedo. Perdeu o marido quando estava com 33 anos e dois filhos pequenos para cuidar: uma menina de 2 e o menino de 8 anos.

¨Vendi o ponto e o carro, também porque não sabia dirigir¨, lembra Shige. O dinheiro ela investiu em uma loja de confecção infanto-juvenil em Itaquaquecetuba, cidade localizada na região metropolitana de São Paulo. Foi com a renda do pequeno negócio que ela cuidou sozinha dos dois filhos, e só desistiu de ser microempresária depois de doze anos, quando viu seu negócio perder clientela para as grandes redes que começaram a se instalar na região. ¨Também recebia muito cheque pré-datado que só dava dor de cabeça.¨

O Japão foi a saída para Shige, assim como para os milhares de brasileiros que também se tornaram exilados econômicos. A dívida que tinha acumulado ela saldou com os primeiros salários obtidos aqui. ¨O serviço é meio corrido, mas dá para acompanhar¨, diz. Folga uma vez por semana, às terças-feiras, e nos feriados prolongados sabe que precisa trabalhar muito mais, pois é em épocas como a Golden Week e no verão que os colegas japoneses gostam de descansar. ¨Não me importo de trabalhar. É até melhor, porque assim consigo economizar mais¨, diz.

Depois de dez anos trabalhando na mesma fábrica, Shige afirma que coleciona várias conquistas. A maior foi a casa que conseguiu comprar na cidade de Suzano, no interior de São Paulo. Também fez muitas amizades. Com uma japonesa que agora completa 70 anos, a brasileira conheceu várias partes do Japão.

A idade também pesa para Shige, só que ela não pensa em parar tão cedo. ¨Gosto do que faço¨. Aos 66 anos, faz planos para quando se tornar septuagenária. Quer voltar para o Brasil e contar sua história de luta para os netinhos.
Fonte: IPC Digital
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