O termo Indústria 4.0 foi cunhado na Alemanha e diz respeito à quarta revolução do processo produtivo
Os processos produtivos na história passaram por três revoluções: a mecânica, a elétrica e a da automação. Mas agora chegou a vez da quarta revolução.
É a chamada indústria 4.0, que em termos bem simples pode ser definida como “fábrica inteligente”, isto é, todo seu processo produtivo – seja de que área for – envolve a integração de banco de dados de alta tecnologia, inteligência artificial e equipamentos ligados à internet das coisas.
Embora pareça um tema distante, em algum aspecto afetará a forma de trabalhar de todos, especialmente no Japão.
Alguns brasileiros no Japão estão bastante integrados ao assunto, como é o caso de Anderson Miyada, formado em ciência da computação no Brasil e que trabalha atualmente como técnico em melhoria no sistema produtivo (kaizen) e programação para automação de máquinas.
Outro profissional é Clayton Noboro Yugue, de Nagoia (Aichi), engenheiro de desenho assistido por computador (CAD, na sigla em inglês) e fundador da empresa de tecnologia Aliena Corporation.
Miyada conta que quando a Alemanha lançou seu plano de indústria 4.0, a proposta foi considerada inovadora e atraiu a atenção de grandes indústrias. De certa forma, ele ressalta que essa ideia também já vinha sendo discutida em outros países.
Como funciona?
Na indústria 4.0 uma fábrica produz determinada peça ou produto numa linha de produção totalmente integrada, desde a compra dos insumos à sua fabricação e distribuição, tendo um mínimo de interferência humana.
“E a indústria automobilística é a que está mais à frente”, explica Miyada.
“O transporte público ferroviário no Japão também está avançado. Um exemplo é a Japan Railways (JR), que coordena todas as operações por um sistema inteligente. É uma empresa que sempre busca inovar”, acrescenta Yugue.
No cotidiano de uma empresa classificada como indústria 4.0, uma central coleta os dados gerados pelas máquinas situadas nas diferentes fases da linha de produção. Esses dados são analisados pela Inteligência Artificial (IA).
Através da IA torna-se possível arquitetar os ajustes necessários na fabricação do produto.
Este sistema conta ainda com a chamada rede neuronal integrada (que permite às máquinas aprenderem novos padrões, adaptando-se a mudanças e imitando processos humanos), ligado com a internet das coisas (isto é, todo equipamento conectado à rede mundial de computadores), tornando mais rápido todas as fases da produção e menos sujeito a erros.
Japão
Em abril de 2016 o governo japonês aprovou o 5º Plano Básico de Ciência e Tecnologia que envolve principalmente o desenvolvimento do que as autoridades chamam de sociedade inteligente envolvendo as empresas do futuro.
Batizada de sociedade 5.0, ela é marcada pelo uso total de inovações tecnológicas, incluindo a internet das coisas, inteligência artificial e big data, que estão incluídas como requisitos para a indústria 4.0.
As autoridades japonesas consideram que esse sistema trará uma nova forma de sabedoria para a sociedade e os processos produtivos.
Pesquisas do setor indicam que a empresa japonesa Fanuc está na dianteira da automação, com cerca de 400 mil robôs instalados.
Ela é seguida pela também japonesa Yaskawa, que está empatada com a Asea Brown Boveri (empresa sueca), cada uma com aproximadamente 300 mil.
Entre outras empresas com cerca de 100 mil robôs nas fábricas estão as japonesas Kawasaki, Nachi, Kuka, Denso, Mitsubishi e Epson.
Esses robôs não têm exatamente a forma humanoide, como nos filmes de ficção, mas são máquinas autônomas que reduzem a interferência humana em processos industriais.
E os trabalhadores?
Pelo alto custo de transformação das atuais empresas nesse conceito da quarta revolução, talvez demore um tempo até que todas se encaixem nessa nova realidade. Mas até lá, muitas pessoas terão que se adaptar ao futuro que já desponta no horizonte.
“Mas isso também vai depender do grau de autonomia que os equipamentos terão segundo as regras de cada empresa”, acrescenta Miyada, referindo-se à necessidade de uma maior ou menor interferência humana na indústria 4.0.
Em uma fábrica de Shizuoka, que produz peças de precisão, por exemplo, um computador fica diante de cada funcionário encarregado de dar o toque final no produto.
Se o trabalhador pegar uma ferramenta errada, um aviso aparecerá na tela.
Segundo Yugue, existem fábricas em que a kensa (inspeção de qualidade) é feita com microscópio que vem com um programa que analisa cada peça.
O fato é que as pessoas precisarão desenvolver certas habilidades requeridas por empresas para se encaixarem no perfil de indústria 4.0.
“O comum será o profissional ter conhecimento de programação, robótica, dominar linguagem de programação, eletrônica, eletricidade, mecatrônica”, explica Miyada, citando que já existem indústrias exigindo de novos trabalhadores conhecimentos técnicos nestas áreas, num indicativo de que no futuro o trabalho repetitivo deixará de ser feito por pessoas.
Mas Miyada avisa que há outros aspectos a considerar.
Para se dar bem nessas empresas o funcionário precisará saber trabalhar em equipe, ser mais sociável e resolver problemas.
“Além disso, precisa dominar o sistema de kaizen, que busca a melhoria da produção. E como a tecnologia se renova a todo instante, a pessoa tem que estudar sempre e se tornar adaptável”, garante.
Não só as indústrias serão afetadas por essa nova onda, mas também outras áreas.
Miyada acredita que por mais que todos os processos sejam automatizados e distanciados da interferência humana, ainda assim haverá espaço para quem tiver habilidade manual.
Ele lembra: “Por mais que a máquina trabalhe, ainda será preciso o toque especial de alguém”.
Fonte: Alternativa